É sabido, porque foi divulgado pelo Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) que o município da Amadora lhe cedeu as antigas instalações do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (CNBDI), e que, a partir das possibilidades desse novo espaço, o renovado CPBD começa a preparar um novo fôlego.
Não se sabe muito mais sobre os termos desta colaboração entre a Amadora e o CPBD, pelo que a crónica de hoje não é sobre o que essa colaboração efetivamente é, mas é sobre o que poderá ser.
Dá-se por assente que a Amadora (e bem) já não se basta com a velha rotina de montar um festival de BD, fazer com que se fale da cidade durante quinze dias e desmontar a tenda até ao ano seguinte.
A partir de 2000, a consciência desta necessidade de afirmar uma dinâmica permanente, teve no CNBDI o elemento-chave. O CNBDI apostava em todas as vertentes ligadas à banda desenhada, representando, uma casa de edição, um local de exposição, uma biblioteca especializada em BD, um arquivo de originais e, naturalmente, um centro de estudo e pesquisa. Era um verdadeiro ponto de convergência de diferentes dinâmicas, como descrevia o investigador José de Matos-Cruz, no texto que assinou para o catálogo da exposição comemorativa do quinto aniversário do CNBDI:
“CNBDI. O coração da banda desenhada. Ritmo e pulsar. Sentir. Onde o elã remonta, articula e se distribui. Imagem – impressa, animada. Original. A respiração do olhar, como um pulmão rejuvenescido na essência da imaginação. Amar os quadradinhos, na Amadora. Um espaço versátil que atrai projectos, administra expectativas, incentiva visões, gere objectivos, organiza a festa. Sem fronteiras. Antecâmara do Festival Internacional de Banda Desenhada – Amadora BD.
(…)
Motor de um festival, patente reinvenção visionária. Assim estimo, estou em pleno centro laboratorial da imadem; erne panorâmico dos quadradinhos: celebrando uma iconografia singular, selectiva, colectiva, dispersa, constitutiva a partir de murais, baixos-relevos, gravuras medievas, iluminuras clássicas, pinturas renascentistas, estampas -populares… Essa fusão aleatória, fragmentária, onírica, global, que pontua o mapa maioritário da fantasia em que se abstraem todos os limites que nos condicionam.
Qual observatório virtual, o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem alberga, pois, e estimula uma ampla tendência, funcional e abstracta, sobre o mais vasto acervo artístico e cultural: acolher e resgatar, conservar e fornecer, atrair e ensinar, estudar e predispor, editar e adquirir, expor e difundir – servindo ou recorrendo a criadores e utilizadores, a particulares e instituições, a investigadores e interessados. E para tal em suas instalações ou com vocação itinerante, por iniciativa própria ou fomentando parcerias.”
Nos últimos anos, verificou-se um desinvestimento do Município no CNBDI, até que o equipamento foi desativado, com a instalação de livros, revistas e originais na novíssima Bedeteca, inaugurada em 2014. Quase oito meses depois da inauguração, a Bedeteca da Amadora conseguiu apresentar uma segunda exposição (a mostra sobre Jijé, que chegou à Amadora num modelo quase “chave na mão”). Ou seja, a Bedeteca não parece, para já, apresentar grande dinâmica
A esperança assenta, por isto, no CPBD, e no que poderá conseguir-se com a sua anunciada renovação. Para a Amadora, pode ser finalmente uma base para a preparação de exposições a apresentar na Bedeteca ou no Festival (para além da dinamização do local que será a futura nova base de operações, onde antes funcionava o CNBDI), textos temáticos e outros projetos ligados à banda desenhada. O CPBD pode ser um especialista em parceria, na continuidade (com possibilidade para fazer mais e melhor atendendo à sua natureza associativa) do tipo de colaboração especialista que Carlos Pessoa assegurou nos primeiros anos de AmadoraBD, e que eu assegurei entre 1999 e 2011.
Da parte do CPBD também há proveitos a retirar duma tal parceria para além da já muito significativa cedência de instalações (um stand no Festival, por exemplo).
Um festival que necessita de se renovar para atrair as novas gerações vai aliar-se a um clube do tempo dos afonsinhos, Urray for tachos!