“Voltage” – Michel Vaillant, nouvelle saison, Tome 2
Argumento: Philippe Graton e Denis Lapière
Desenhos: Benjamin Benéteau e Marc Bourgne
PVP: 5,95€
Edição: 09/04/2014
Com Michel afastado das corridas depois da sua brincadeira no primeiro livro, tem-se dedicado mais a acompanhar o filho Patrick, que abandonou a escola para se dedicar ao seu próprio projecto automóvel, mas longe dos olhares do império familiar. O que não quer dizer que os problemas familiares estejam resolvidos. “Voltagem”, o segundo volume, começa com Michel temporariamente banido da competição e sem vontade para aceitar o ombro amigo da própria esposa.
Denis Lapière continua a introduzir dificuldades nos relacionamentos entre os membros da família, se bem que, estranhamente, Michel e Jean-Pierre, que discutiam mais vezes por virtude das respectivas funções na equipa, nem andam muito às avessas (Jean-Pierre devia ter sido o primeiro a criticar o seu irmão). Em vez disso, o pai Henri pretende continuar a dificultar a vida aos planos de expansão de Jean-Pierre, enquanto uma jornalista, que está a fazer um documentário sobre Vaillante, começa a gerar crises de ciúmes em François pela sua constante presença de roda de Michel. E não é tudo… Lapière começa a parecer o escritor Kevin J. Anderson no modo como introduz adversidades nas vidas dos personagens (ainda não o vou começar a comparar a George R. R. Martin).
O estilo de arte de Marc Bourgne continua a evoluir, tentando afastar-se mais de Jean Graton e fazendo algumas experiências com a grossura do traço, o que por vezes faz o trabalho parecer apressado. Bourgne também parece ter alguns problemas em desenhar Steve Warson. O antigo colega de Michel está de volta neste segundo volume, e nos primeiros painéis está quase irreconhecível. Steve já não está envolvido no mundo das corridas, pois Philippe Graton tinha dito que os antigos personagens poderiam regressar, mas não da mesma maneira. Warson agora é político. Quanto aos rivais Leader, a relação é muito mais amigável, ou pelo menos de tolerância e respeito. A Leader, agora uma empresa chinesa com um modo de actuar mais parecido com a realidade, pretende fazer a mesma coisa que a Vaillante, bater o recorde de velocidade em carro eléctrico.
[pullquote align=”right”] É curioso como Lapière toca num ponto real, referindo-se ao projecto, na boca de Michel, como “pouco interessante”.[/pullquote]Mais uma vez, Michel Vaillant alia-se a um projecto real. As cores da Vaillante foram usadas no Venturi VBB-3, um carro-foguete com motores eléctricos que já bateu o recorde para o seu tipo de combustível, e pretende fazê-lo novamente este ano (ainda que o número obtido por Michel na história seja fantasioso quando comparado com a realidade). Na história, é Michel o piloto do carro, mas não costumam ser pilotos de F1, e sim de aviação, a bater estes recordes de velocidade. Estas costumam ser feitas nos lagos salgados junto a Salt Lake City, um dos poucos eventos de motores que escapa ao politicamente correcto das corridas modernas.
O interesse no conceito de carros eléctricos e mobilidade urbana com eficiência ambiental estende-se ao projecto independente de Patrick Vaillant. É curioso como Lapière toca num ponto real, referindo-se ao projecto, na boca de Michel, como “pouco interessante”. De facto, nos últimos anos, marcas associadas ao desporto tem-se focado cada vez mais no ambiental, e os carros pouco se distinguem de electrodomésticos, com a função a sobrepor-se à forma (um detalhe adicional é que, nos últimos anos, os jovens americanos com menos de 18 anos tem cada vez menos interesse em tirar a carta). É uma informação que os conhecedores do mundo automóvel iriam reconhecer e com a qual iriam concordar, mas que outra pessoa poderia interpretar como uma crítica desmotivadora ao trabalho de filho.