Uma Leitura Para Férias: A Pior Banda Do Mundo

Fazendo o convite aos leitores para que a incluam na lista de leituras para férias, aqui recupero algumas das ideias do autor, avançadas no âmbito de uma entrevista publicada no catálogo de 2003 do AmadoraBD.

Sobre os antecedentes da série:

Sempre acreditei nas potencialidades comerciais de A Pior Banda do Mundo e isso foi uma das razões porque, depois de ter passado o ano 2000 com uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura, julguei que chegara a altura de correr o risco de tentar viver a contar histórias com bonecos. Depois tudo correu mal: a Meribérica, que ia editar a série em Portugal e que vinha a adiar a edição da série desde 1999, colapsou definitivamente, os sócios da editora independente La Cafetière, que ia editar a série na Bélgica e França, desentenderam-se, a K.O.G., uma revista mensal, em francês, com distribuição europeia e tiragem de 70.000 exemplares, com a qual assinara contrato para publicar regularmente histórias da Pior Banda, acabou logo no nº 1. As minhas experiências editoriais anteriores tinham sido más, mas 2001 foi um ano desastroso. Estive dois anos praticamente sem editar e durante um ano não mexi em BD, também por problemas pessoais. Até que caiu do céu a Devir, na pessoa do Zé Freitas (não por acidente, mas “empurrado” por conselho do João Miguel Lameiras, que o convenceu, a contragosto, a ler BDs de um autor português). E a Devir não só me propôs a edição em Portugal como a internacionalização, para começar em Espanha e no Brasil, depois, se tudo correr bem, na França e EUA. O que mais me espantou nem foi o bom acolhimento em Portugal, onde, apesar das vicissitudes editoriais, eu já era conhecido e tinha muitos livros publicados com boas críticas, foi o reconhecimento pela crítica e pelo público em Espanha, onde era um completo desconhecido e onde aliás não entrava BD portuguesa há muitos anos. Creio que nem a Devir esperava que as coisas corressem tão bem. É claro que a editora merece boa parte do crédito, pois soube “trabalhar” bem o livro e investiu na promoção. Do ponto de vista estritamente material, este reconhecimento quer também dizer que agora posso alimentar a esperança de viver só da BD e ilustração.

Sobre a possibilidade de algumas personagens começarem a exigir uma maior continuidade, ou mesmo a escreverem por si próprias os seus destinos:

As personagens que aparecem mais regularmente são o compositor Dimitri Sikorsky (o tal que tem a pouca sorte de habitar no mesmo prédio em que ensaia A Pior Banda), o líder do Partido Impopular Idiossincrático, Kaspar Grosz, o editor-magnate-tubarão Adolfo Mengel (que está por detrás de quase tudo o que dá dinheiro), o designer de arranjos florais e audiófilo Teodoro Roszack, o agente imobiliário Rafael Oznan… Mas o facto de aparecerem com mais regularidade não quer dizer que sejam senhores dos seus destinos. Aliás, como losers e loners que são, tal está-lhes vedado.

Finalmente, sobre o processo criativo:

“No caso da Pior Banda, vou apontando quase todo os dias pequenos fragmentos de ideias que me ocorrem, vindos de lado nenhum ou que me são inspiradas por alguma coisa que li ou ouvi, às vezes são só uma ou duas linhas, outras vezes meia-dúzia. Mais tarde vejo quais delas podem ser desenvolvidas numa história de duas páginas e quais as que apenas serão aproveitáveis como gags dentro de uma história. Escrevo os textos, mas não faço planificação nem sequer estudo de personagens, vou desenhando tudo directamente na prancha. Entretanto vejo como inserir a nova história no universo das histórias já existentes ou previstas: pondero que personagens e lugares posso reutilizar e que vínculos estabelecer, dentro do volume e em relação aos volumes anteriores.”

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