Não é qualquer autor que consegue ter um lugar de destaque numa exposição do festival internacional de banda desenhada da Amadora. Mas durante anos, o festival foi o palco ideal para o português Luís Louro, um autor que trabalhava praticamente sozinho a ficção comercial, e que se afirmou como o mais popular autor português de banda desenhada.
O regresso de Jim del Mónaco neste ano de 2015, já anunciado no aCalopsia, é também o regresso de Luís Louro (que completa 50 anos em junho) à banda desenhada, após vários anos de ausência.

Luís Louro é um autor que, ainda jovem, conseguiu um percurso muito significativo na área da banda desenhada. É, sem qualquer dúvida, um autor fundamental no que respeita à banda desenhada portuguesa dos últimos quinze anos do século XX. E, curiosamente, Louro conseguiu afirmar-se de uma forma muito complicada, o que só lhe garante mérito e espelha bem o esforço e dedicação da sua aposta: quando se quis demarcar do estilo de banda desenhada praticado pelos grandes clássicos portugueses, pretendendo enveredar pela obra de ficção, Louro decidiu-se a apostar no formato do álbum franco-belga, entrando assim em competição directa com os grandes autores franco-belgas traduzidos no nosso país.
Entre 1985 e 2000, o período em que se afirma como um autor fundamental, Louro publicou quinze álbuns originais individuais, quatro reedições a cores de álbuns anteriormente publicados a preto e branco, e englobou ainda o elenco do colectivo “O Síndroma de Babel e Outras Estórias”, publicado pela Câmara Municipal da Amadora. Representou Portugal em diversos festivais internacionais de banda desenhada, do Japão ao Brasil. A sua obra foi publicada nos principais jornais portugueses e nas revistas de BD, esteve exposta nos principais festivais de banda desenhada (incluindo cerca de dez edições do AmadoraBD), e foi distinguida com alguns dos mais representativos prémios e troféus nacionais.
Louro representa um ideal para muitos jovens que pretendem realizar banda desenhada. É o autor que vingou em termos de popularidade e aceitação (crítica e entre os seus pares), no domínio da ficção e da obra de autor, sem inventar tácticas de guerrilha como o “álbum a preto e branco de 16 páginas formato A5”. Louro venceu pela qualidade do seu trabalho, pelo esforço, dedicação e profissionalismo. É por isso que o anunciado regresso é um facto muito importante no panorama da BD portuguesa.
Vale a pena olhar com algum detalhe para o percurso de Luís Louro na banda desenhada. É um percurso que tem início na personagem cujo regresso agora é anunciado, Jim del Mónaco, e que se aventura, para além das séries com heróis (e super-heróis), por um universo de autor muito particular. Interessa sobretudo dar alguma atenção a algumas das razões que contribuíram para o enorme (e merecido) sucesso de Luís Louro na banda desenhada.
É o que proponho fazer a partir da próxima crónica.
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