O Regresso de Luís Louro

Não é qualquer autor que consegue ter um lugar de destaque numa exposição do festival internacional de banda desenhada da Amadora. Mas durante anos, o festival foi o palco ideal para o português Luís Louro, um autor que trabalhava praticamente sozinho a ficção comercial, e que se afirmou como o mais popular autor português de banda desenhada.

O regresso de Jim del Mónaco neste ano de 2015, já anunciado no aCalopsia, é também o regresso de Luís Louro (que completa 50 anos em junho) à banda desenhada, após vários anos de ausência.

Luis Louro, Tozé Simões e Jim Del Mónaco nos anos 80
Luis Louro, Tozé Simões e Jim Del Mónaco nos anos 80

Luís Louro é um autor que, ainda jovem, conseguiu um percurso muito significativo na área da banda desenhada. É, sem qualquer dúvida, um autor fundamental no que respeita à banda desenhada portuguesa dos últimos quinze anos do século XX. E, curiosamente, Louro conseguiu afirmar-se de uma forma muito complicada, o que só lhe garante mérito e espelha bem o esforço e dedicação da sua aposta: quando se quis demarcar do estilo de banda desenhada praticado pelos grandes clássicos portugueses, pretendendo enveredar pela obra de ficção, Louro decidiu-se a apostar no formato do álbum franco-belga, entrando assim em competição directa com os grandes autores franco-belgas traduzidos no nosso país.

Entre 1985 e 2000, o período em que se afirma como um autor fundamental, Louro publicou quinze álbuns originais individuais, quatro reedições a cores de álbuns anteriormente publicados a preto e branco, e englobou ainda o elenco do colectivo “O Síndroma de Babel e Outras Estórias”, publicado pela Câmara Municipal da Amadora. Representou Portugal em diversos festivais internacionais de banda desenhada, do Japão ao Brasil. A sua obra foi publicada nos principais jornais portugueses e nas revistas de BD, esteve exposta nos principais festivais de banda desenhada (incluindo cerca de dez edições do AmadoraBD), e foi distinguida com alguns dos mais representativos prémios e troféus nacionais.

Louro representa um ideal para muitos jovens que pretendem realizar banda desenhada. É o autor que vingou em termos de popularidade e aceitação (crítica e entre os seus pares), no domínio da ficção e da obra de autor, sem inventar tácticas de guerrilha como o “álbum a preto e branco de 16 páginas formato A5”. Louro venceu pela qualidade do seu trabalho, pelo esforço, dedicação e profissionalismo. É por isso que o anunciado regresso é um facto muito importante no panorama da BD portuguesa.

Vale a pena olhar com algum detalhe para o percurso de Luís Louro na banda desenhada. É um percurso que tem início na personagem cujo regresso agora é anunciado, Jim del Mónaco, e que se aventura, para além das séries com heróis (e super-heróis), por um universo de autor muito particular. Interessa sobretudo dar alguma atenção a algumas das razões que contribuíram para o enorme (e merecido) sucesso de Luís Louro na banda desenhada.

É o que proponho fazer a partir da próxima crónica.

  1. Avatar de Bruno Campos

    Continuo a considerar que falta uma menção ao Tozé Simões nesse texto, é que o Jim Del Mónaco é uma criação de Louro & Simões… e este regresso que agora se dá não é só o do desenhista, é o regresso da dupla criativa.

    Não estou com isto a querer menorizar o trabalho do Luis Louro, estou é a relembrar o argumentista. É que durante décadas o Tozé Simões até foi dos poucos argumentistas de BD que existiam em Portugal.

    Actualmente já existem mais argumentistas com obra publicada, mas continuam a ser pouco os argumentistas que tenham publicido uma dezena de álbuns.

    Mas isto de se ignorar os argumentista parece-me ser mesmo o reflexo de um velho problema nacional: a malta diz que um dos grandes problemas da BD nacional é não existirem argumentistas, contudo esquecem-se dos que existem.

    Já agora uma das singularidades de Luis Louro é que antes de ser um autor “completo” foi “só” desenhista. Algo que também faz com que seja menos autor que outros, simplesmente pertence aquela categoria dos autores que primeiro aprenderam a desenhar e só depois a escrever, não é usual em Portugal onde existe uma escola “clássica” de “autores completos”, Louro pertence a uma escola mais “moderna”, frequentada entre outro por nomes como Mignola, Bilal ou Moebius.

    Enfim… o título da crónica devia ser “O Regresso de Louro & Simões”, mas enfim este é o problema de se publicar texto de outras pessoas, nem sempre se pode concordar com elas!

  2. Avatar de Diogo Semedo

    Não posso deixar de recordar o primeiro “Corvo” que o Louro fez na Baleia Azul. Para mim um dos melhores albuns de sempre da BD Nacional. Merecia uma reedição este ano.

  3. Avatar de Pedro Mota
    Pedro Mota

    Esta crónica (e as duas próximas) são sobre o regresso do Luís Louro. É certo que o Tozé também regressa, mas não é sobre ele que eu escrevo. Assim, o título não me parece mal.
    Pode haver uma futura crónica sobre o regresso do Tozé Simões. Se houver, não vai ter o Luís Louro no título.
    O Corvo foi sempre publicado pela Asa, incluindo o primeiro, de 1994.

    1. Avatar de Bruno Campos

      A questão não é o Simões no título, isso até não me “ofendia” muito, é a menção a Jim Del Mónaco sem falar de Simões, que é o mesmo que falar de Incal e não mencionar Jodorowosky ou de Blueberry e não mencionar Charlier, do mesmo modo que qualquer artigo sobre Moebius – mesmo que seja só introdutório – que não mencione esses dois argumentistas irá ter uma lacuna grave.

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