“A banda desenhada nunca vai morrer” é o título de um artigo de Tiago da Bernarda, publicado no Público, que é um bom apanhado sobre a situação da Banda Desenhada portuguesa actual.
“A banda desenhada nunca vai morrer” um bom artigo, apesar de já só estar disponível no Kuentro, comete é o erro de pretender ser sobre a BD independente portuguesa, esquecendo-se que toda a BD portuguesa é independente. Não existe neste momento grandes editoras a apostarem na BD portuguesa, nem sequer médias editoras que efectuem essa aposta.(que j
A última grande editora a apostar na BD portuguesa foi a Asa, que este ano reduziu esta aposta e abdicou de publicar o Ricardo Cabral, num ano em que foi premiado no Brasil e era autor em destaque no AmadoraBD.
Mas esquecendo esse pequeno detalhe, a aposta das “grandes” editoras em autores nacionais não significa que eles enfrentem limitações de ordem “comercial” que os autores “independentes” não têm. O facto de um autor nacional ser editado por uma editora que lhe garante uma tiragem de 1500 exemplares não significa que a editora tenha grandes condições de lhe impor qualquer tipo de limitação “comercial”, pode é significar que tenha um retorno financeiro superior ao de uma editora “pequena” com 400 exemplares de tiragem.
A incapacidade de “impor” restrições comerciais é reflexo do facto de um tiragem de 1500 ou 3000 exemplares não ser suficiente para pagar algum valor significativo ao autores, em particular quando só vai pagar esse valor após o álbum vender. Isso significa que não existe qualquer tipo de pagamento adiantado, os autores que trabalham para as “grandes” editoras nacionais têm as mesmas limitações que os autores “independente”: fazer BD sem serem remunerados e com poucas espectativas de terem alguma remuneração significativa pelo seu trabalho.
Vender 400 exemplares de um livro é motivo de rejúbilo para qualquer editora independente de banda desenhada portuguesa.
Apesar de insistir no pleonasmo de falar de editoras independentes de banda desenhada portuguesa, o artigo tem pelo menos o condão de demonstrar que apesar de teóricas diferenças de filosofia editorial e estéticas, as pequenas editoras até possuem afinidades temáticas nas obras que publicam.
Psicose, de Miguel Costa Ferreira e João Sequeira, lançado em Abril de 2013 pela El Pep, e Palmas Para o Esquilo, de David Soares e Pedro Serpa, lançado pela Kingpin Books em Julho de 2013, são dois álbuns que exemplificam o que no final dos anos 80 se definiu como “banda desenhada de autor”.
Sendo um artigo bastante abrangente, a nível das problemáticas que aborda, existem alturas em que se perde e confunde situações diferentes.
Ainda este ano, a Chili Com Carne lançou o livro “O Desenhador Defunto”, de Francisco Sousa Lobo, na Galeira Kamm, em Berlim. Joana Afonso, de “O Baile”, lançou também a minicomic “Living Will”, com André Oliveira, para ser distribuído no Reino Unido. “O Amor Infinito Que Te Tenho”, de Paulo Monteiro, que já se encontra em Espanha, França e Polónia, será também distribuído no Brasil e no Reino Unido no início do próximo ano.
“Desenhador Defunto” é uma edição bilingue da Chilli Com Carne, que vem à alguns anos a apostar na edição bilingue das suas obras, para escoar as edições limitadas que produz. “Living Will” de André Oliveira e Joana Afonso é um mini-comic que aposta na língua inglesa não para escoar a sua tiragem mas para os autores poderem mostrar a sua obra a um público estrangeiro, e em particular, a editores estrangeiros. Pode parecer o mesmo, mas não é. Em particular porque quer Joana Afonso quer André Oliveira têm trabalho editados, ou que serão editado em breve, que apostam na língua portuguesa.
O caso da edição de “O Amor Infinito” em Espanha, França e Polónia, é o que deveria ser o percurso natural de um álbum de BD (nacional), existe uma edição em português da editora que depois tem capacidade de vender o álbum no exterior, permitindo ao autor (teoricamente) ter uma remuneração adicional pelo seu trabalho.
Um autor/editor investir na edição de uma obra em outra língua não é exactamente o mesmo que um editor estrangeiro investir na edição de um obra portuguesa na sua língua.
“Nós temos autores, editores e público mas faltam-nos duas coisas: distribuição e divulgação”, palavras de Pedro Pereira, também conhecido como Pepdelrey da editora El Pep, que apresenta um dilema comum e que parece retratar a génese das pequenas editoras de BD portuguesa e o espírito da auto-publicação.
O que torna a utilização de termos como independente e mainstream, comercial e alternativo, irrelevantes (em Portugal) é que os problemas que as grandes editoras enfrentam são exactamente os mesmo que as pequenas editoras enfrentam: distribuição e divulgação. A única diferença entre as grandes editoras e a pequenas editoras é o capital disponível para investir.
O grande problema da BD portuguesa é que é toda independente e alternativa, falta é existir BD comercial. E quando falo de BD comercial falo de BD que vende o suficiente para a editora ter lucro e remunerar condignamente os autores. E neste caso, o último grande sucesso comercial da BD Portuguesa continua a ser “A Pior Banda do Mundo” de José Carlos Fernandes, que o “Dog Mendonça e Pizzaboy” apesar do sucesso de vendas, só é possível devido ao facto de Filipe Melo estar disposto a investir (mesmo não recuperando o investimento) uns 12000 euros na produção dos álbuns.
Deixe um comentário