Em comunicado divulgado pela organização do AmadoraBD 2014 – 25.º Festival Internacional de Banda Desenhada, organizado pela Câmara Municipal da Amadora, é revelado que esta edição teve 30.340 visitantes, “verificando-se um acréscimo de cerca de 400 visitantes em relação ao ano anterior. Este acréscimo deu-se tanto em termos de público em geral, como em número de alunos integrados em visitas escolares.”
No balanço desta edição comemorativa dos 25 anos do festival, que decorreu de 24 de Outubro a 9 de Novembro, são salientados alguns números: “o AmadoraBD apresentou 16 exposições no Fórum Luís de Camões e 9 em diversos locais da Amadora e de Lisboa, num total de 25 exposições. Houve mais de 22 lançamentos e apresentações de álbuns e estiveram presentes 70 autores portugueses e estrangeiros entre apresentações, lançamentos, debates, sessões de autógrafos e exposições.”
A organização indica que se registou-se uma satisfação generalizada por parte dos editores e livreiros presentes no “renovado espaço comercial do AmadoraBD”, ea essa satisfação não fica alheioo elevado número de novidades editoriais e “um acréscimo na procura de edições por parte dos visitantes.”
O fim do festival não marca o fim das activades relacionadas com a BD na cidade na Amadora ou no âmbito do festival.
A exposição “25 Anos, 25 Autores, 25 Cartazes”, relativa aos cartazes que fazem parte das 25 edições do AmadoraBD, pode ainda ser visitada na Fnac Chiado, até 14 de Janeiro, estando depois em modo itenerante pelas lojas Fnac de todo o país. Esta exposição pode ser ainda visitada na recém inaugurada Bedeteca da Amadora, na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, bem como a exposição “O Resto da Revista – o que (quase) fica de fora das histórias da banda desenhada”, comissariada por Mário Moura, que permanece neste novo espaço até 31 de Março. A Bedeteca pode ser visitada de terça a sábado das 10h às 18h.
A Bedeteca da Amadora inaugurou no passado dia 8 de Novembro, aAcolhendo mais de 40 mil publicações, entre álbuns, livros, revistas e fanzines, a Bedeteca pretende assumir-se “como um espaço privilegiado de oferta de Banda Desenhada ao longo de todo o ano, apostando igualmente nas novas tecnologias e na BD digital.”
Segundo a Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Carla Tavares, a criação da Bedeteca “é mais um passo no reconhecimento da importância da Nona Arte para a Amadora, que pretende continuar a afirmar-se como a capital da Banda Desenhada e apresenta-se como mais uma peça na construção contínua deste projeto desafiante, pretendendo ser um espaço pensado para a difusão da BD nos seus vários suportes e que ambiciona chegar a pessoas de todas as idades, durante todo o ano”.
Para além das áreas dedicadas a álbuns, livros e revistas, a Bedeteca tem duas zonas de exposições (uma maior com uma programação expositiva entre os quatro e os seis meses e outra mais pequena, para exposições que permanecem entre as três e as seis semanas), uma área dedicada à Bedeteca Júnior, com publicações destinadas aos mais pequenos e uma sala que será a futura Fanzineteca, que acolherá um inúmero conjunto de fanzines, do qual fará também parte a extensa coleção doada por Geraldes Lino.
Seria interessante saber qual o tal aumento de “público em geral” versus “visitas escolares”, e sobretudo saber quantos são em termos absolutos. 3000 dos 30.000? 5.000? 10.000? São números muito diferentes e que poderiam dar informação sobre a verdadeira relevância do Festival dentro do panorama da BD em Portugal.
Esse é um número que seria curioso conhecer, assim como o das tiragens/vendas das editoras, seriam sempre números que permitiriam ter uma noção do mercado que existe.
3.000 visitantes é aproximadamente 100 turmas de 30 alunos, se forem 6.000 serão umas 200 turmas. Em termos de mercado (vendas) pode não ser relevante, mas a nível de criação de mercado poderá ser, poderá…
A verdadeira relevância, ou se preferirmos: poder mediático do festival, ficou patente na cobertura que o evento teve pelos orgão de comunicação, foi uma cobertura que acabou por ter pouca relevância para o mercado devido ao facto de o nome grande desta edição ser o Joe Staton, autor sem obra publicada em Portugal.
E quantas pessoas pagaram bilhete mas iam mais por acompanhar outras do que por causa da BD? E quantos das escolas é que pagariam bilhete se não fossem com as escolas? E venderam-se mais livros ou pipocas? E quantos autógrafos foram dados em livros e quantos em folhas de papel? E venderam-se mais minis ou médias? Faltam mesmo muitos números… todos importantíssimos, e que davam conversa até ao próximo ano (em que o número de visitantes rondará os 30.000, mesmo que o nome grande tenha imensa obra publicada em Portugal). Mas a verdadeira razão pela qual não conseguimos “ter uma noção do mercado que existe” é que… o mercado não existe.
Lá estás tu a insistir que não existe mercado… à 25 anos não existia um mercado, nas últimas décadas tem vindo a surgir um mercado – embora sendo débil, fraco, por vezes mais um “não-mercado” que um mercado na verdadeira acepção da palavra. Existe um mercado como comprovam as “ausências” do ABD 2014: Mundo Fantasma, Casa da BD, BDMania, El Pep Store & Gallery, Mongorhead e Sétima Dimensão (a nivel de loja especializadas); Goody, Panini, G. Floy, Chili Com Carne, MNnnqualquercoiso, Gradiva e mais algumas editoras.
O espaço comercial (que foi elogiado por todos) seria pequeno se lá estivessem todas as editoras e lojas.
A relevância de os autores estarem a desenhar em folhas soltas ou em livros está precisamente aí: a promoção do livro, o incentivo na compra do livro. O facto de o “cabeça de cartaz” ter ou não obra publicada está precisamente aí: se for um autor com obra publicada em Portugal, a sua presença irá ajudar a vender não só livros a quem vai ao festival, mas também a quem lendo as entrevistas e artigos fica a tomar conhecimento com a obra do autor.
Um dos principais problemas do ABD na última década tem sido causado precisamente pelo surgimento de um mercado, na minha opinião, uma vez que o espaço e recursos são limitados, pelo que não é possível agradar a todos os elementos do mercado e o festival tem feito o máximo por se manter à parte do mercado, o que é um erro. Pelo “poderio” financeiro e mediático que o festival tem podia e devia ser um elemento de promoção desse mercado.
Agora, admito que aqui também existem culpas das editoras, basta ver que na Comic Con existem muitos autores com obra publicada, mas que estão presentes (segundo tenho conhecimento) por a CCPT estar a custear as despesas. Como é uma entidade privada a CCPT está a fazer isso como investimento e espera retono financeiro, agora não deixa de ser estranho as editoras (quer no ABD ou no CCPT) ficarem de fora dessa área que (deveria) de ser fundamental na promoção das obras, deixando a vinda de autores ou não por mãos alheias.