O centro representa, uma casa de edição, uma biblioteca especializada em BD, um arquivo de originais, um centro de estudo e pesquisa, e um local de exposição (apresentou cerca de duas dezenas de exposições na sua própria galeria, promovendo e apoiando muitas outras mostras no país e no estrangeiro, e possibilitando a itinerância de exposições produzidas pela Amadora).
O “C” de “Centro” representa o ponto de convergência destas diferentes vertentes.
O “N” de nacional tem duas leituras: por um lado, reforça uma vocação nacional, supralocal. Com efeito, o CNBDI já não se pode considerar um projeto da Amadora, mas um projeto de (e para) todo o país. A segunda leitura reflecte uma ligação à história, cultura e realidade portuguesas. Algumas das exposições apresentadas pelo CNBDI constituem bons exemplos desta orientação: BDs de Abril, O Mosquito, História da Amadora, e A República.
É pelo “B” de “Banda”, evocativo da vertente narrativa ou sequencial, que o CNBDI começa a afirmar-se como complemento do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, Amadora BD. As exposições dos festivais de BD têm um ritmo de visita mais rápido e, nesta medida, centram-se maioritariamente no trabalho dos desenhadores. Uma vez que a BD é uma linguagem que combina texto e imagem, o CNBDI proporciona a oportunidade de promover exposições individuais de autores argumentistas, com objectivos tão vastos como mostrar a técnica de elaboração de um argumento e um guião de BD; mostrar todo o processo criativo que envolve a concepção de uma BD em colaboração (incluindo o permanente diálogo entre argumentista e desenhador, permitindo a visualização dos contributos individuais de cada um para o resultado final, e as concessões de parte a parte), e mostrar a banda desenhada como linguagem multidisciplinar e interdisciplinar e verdadeiramente participativa, dando conta das suas potencialidades no ensino (da história, de línguas, etc.). Alan Moore, Neil Gaiman e Héctor German Oesterheld foram os autores já destacados.
Os desenhadores de BD não deixaram de ser aposta do CNBDI, integrando a vertente do “D” de “Desenhada”. Fora do AmadoraBD, o espaço do CNBDI possibilita grandes retrospectivas com uma nova contextualização, e a apresentação de tendências ou escolas gráficas representativas. As primeiras duas grandes exposições do CNBDI, Intuições e Contrastes, apresentavam retrospectivas de dois autores fundamentais na história da BD nacional de ficção: José Carlos Fernandes e Luís Louro. A partir das retrospectivas apresentadas no AmadoraBD aos autores em destaque, o CNBDI preparou exposições disponíveis para itinerância: Filipe Abranches, Alain Corbel, Miguel Rocha são exemplos significativos. Destaque ainda para a mostra de BD infantil, Em Traços Miúdos, e para a exposição Desenhar a Música, de José Garcês.
O “I” que encerra a sigla CNBDI (Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem) tem uma enorme importância. O relacionamento da banda desenhada com outras linguagem de comunicação é uma questão tão antiga quanto a própria banda desenhada. A linguagem da BD parte da ilustração e da caricatura, com a absorção de noções inerentes à técnica do desenho, à perspectiva, à modulação da linha, à aplicação da cor, à utilização dos diferentes materiais e à deformação expressiva. Depressa absorve o enquadramento e recorte temporal da fotografia, a composição, planificação e equilíbrio das artes gráficas, o tempo da música e do cinema, a estrutura da narrativa; a gestualidade e palavra do teatro; o movimento do cinema de animação, e a montagem cinematográfica. Para lá de tudo isto, mantém a sua especificidade de linguagem. Nos últimos vinte cinco anos, a forma como a banda desenhada redefiniu a sua linguagem e avançou para novos territórios reforçaram a atualidade da questão do relacionamento com outras linguagens.