Hoje, não se pode afirmar que exista um verdadeiro mercado de BD em Portugal. Existe apenas um panorama que vai mexendo o suficiente para não se tomar por morto.
É neste panorama que a cidade da Amadora tem desenvolvido um projeto ligado à BD. E, também por causa de todas estas dificuldades, o apoio à criação é uma das dimensões que não pode ser esquecida num verdadeiro projecto de BD.
A cidade da Amadora deve manter o apoio à criação no domínio da banda desenhada, desde logo promovendo o seu prestigiado concurso anual, e assegurando a exposição dos trabalhos admitidos a concurso e a publicação dos trabalhos premiados. Neste âmbito, sublinha-se a importância da alteração nos regulamentos operada em 2010, que introduziu um novo escalão para maiores de 31 anos.
Entre os vencedores de anos anteriores na categoria de banda desenhada, contam-se os hoje consagrados Rui Lacas, Eliseu (Zeu) Gouveia, João Fazenda, Ricardo Blanco, José Carlos Fernandes, Filipe Abranches, Pedro Potier, Ricardo Cabral, Richard Câmara, André Ruivo ou Joana Afonso, o que mostra bem o nível do concurso.
Mas a cidade pode ir além dos concursos no apoio à criação. Na edição deste ano do AmadoraBD, a oficina «Faz Fanzines» (nome de inspiração geraldesliniana) evidenciou que não são necessários grandes meios para fazer um fanzine de banda desenhada. O modelo podia ser exportado, por exemplo, para as escolas.
E para além dos concursos e dos fanzines, a Amadora pode procurar associar-se (sempre que uma boa parceria o permita) à realização de trabalhos originais de banda desenhada.
Em 1996, a fraca produção nacional obrigou o Festival da Amadora a aventurar-se como editor, reunindo em álbum cinco histórias de banda desenhada que apresentavam a cidade da Amadora como ponto de partida. Victor Mesquita, Nuno Saraiva, Luís Louro, Jorge Mateus e Diniz Conefrey foram os autores escolhidos para a obra, «O sindroma de Babel e outras estórias», que acabou por representar a oferta do Festival em termos de exposições nacionais (ao lado da editora Pedranocharco, de Machado-Dias, que já na altura se apresentava como a eterna promessa para a renovação da BD portuguesa). Em 2010, no âmbito das iniciativas desenvolvidas em parceria entre a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR) e do Centro Nacional de banda Desenhada e Imagem (CNBDI), a Amadora empreendeu a arrojada iniciativa de novo álbum original («É de Noite que faço as Perguntas»). Assumindo o risco, pretendeu-se que em termos narrativos e gráficos o álbum fosse igualmente ambicioso. Nesta medida, afastou-se do registo puramente documental (que seria uma opção segura face aos grandes especialistas portugueses neste tipo de BD), privilegiando antes a ficção histórica. David Soares foi a escolha para centralizar o protejo, que se concretizou na colaboração com cinco desenhadores (dando a conhecer desenhadores cuja bibliografia no formato álbum é ainda pouco expressiva): Jorge Coelho (primeiro capítulo), João Maio Pinto (segundo capítulo), André Coelho (terceiro capítulo), Daniel Silvestre Silva (quarto capítulo) e Richard Câmara (prólogo e epílogo).
O facto de o AmadoraBD ter, desde 2000, um tema, potencia este tipo de abordagem: numa parceria que assegure a viabilidade económica (e, idealmente, a distribuição e a venda), a Amadora tem o conhecimento para concretizar um trabalho de banda desenhada sobre qualquer tema, servindo de ligação entre autores e promotores.