O volume 2 de A Pior Banda do Mundo inicia-se de modo desapontante para alguns leitores: a promessa de uma história é defraudada com o retomar da exploração das particularidades idiossincráticas do indivíduo e da sociedade nos mesmo termos a que o volume 1 nos tinha habituado. Não se trata de uma qualquer perda de acuidade crítica ou sentido de humor, somente a expectativa inata do leitor de procurar um fio narrativo linear, um padrão reconfortante por nos ser tão familiar.
Ora, então porque continua o leitor agarrado a este volume? Porque é da natureza humana procurar padrões para descortinar um sentido no que de outra forma seria inexplicável ou fortuito e A Pior Banda do Mundo oferece-nos a possibilidade de sermos nós a encontrar esses padrões, cuja ambiguidade permite ler a obra como se de um quebra-cabeças fosse, e que o leitor, interpelado directamente pelas personagens que lhe explicam as incongruências do seu mundo como se fossem realidades absolutas que muitos ignoram ou não compreendem, sente-se compelido a prosseguir por um sentimento iniciático em busca da iluminação, do significado místico ou filosófico escondido neste mundo que espelha o nosso de modo distorcido. Por outras palavras, a obra eleva o leitor à posição de herói-escolhido capaz de descortinar uma verdade maior, se a tanto lhe permitir o entendimento.
De facto, absolutamente fiel ao estilo caricatural do primeiro volume, os contos sucedem-se até se começar a entrever uma conjugação de instantâneos passados num sentido novo, formando uma explicação filosófica escondida sob uma camada vaga de ficção científica e fantasia que não se leva sequer a sério, mas que estabelece claramente a ponte entre o mundo do leitor e a sua estranha caricatura em A Pior Banda do Mundo.
Ainda assim, a característica que melhor disfarça o carácter caricatural do mundo fictício descrito na obra relativamente ao nosso são os diálogos ricos em floreados que raiam a incompreensibilidade e o detalhe incongruente. Uma vez que discursos tão rebuscados parecem alienígenas à nossa sociedade, o leitor é deixado à vontade para mergulhar na sua psicose sem se sentir ele próprio atacado pelas semelhanças com o mundo em que vive ou mergulhar nas neuroses que partilha com as personagens.
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A Pior Banda do Mundo Vol. 2
Autor: José Carlos Fernandes
Páginas: 168, a cores
Formato: 170 x 240 mm
ISBN: 978-989-559-236-4
PVP :22 €
Editora: Edições Devir[/box]
Muitos amigos estão me recomendar esta série de muito insistente. Dada a crítica parece ser realmente vale a pena dar-lhe uma tentativa