Razões para visitar o AmadoraBD 2014: A Oportunidade

O facto de estar a escrever esta crónica antes da inauguração do 25.º AmadoraBD, sabendo que ela vai ser publicada já depois da inauguração, levou-me a escolher o tema com algum cuidado.

A escolha acabou por ser fácil. Uma vez que escrevo mais sobre o que pode ser do que sobre aquilo que já é, falo hoje de oportunidades.

Durante o tempo de duração do 25.º AmadoraBD, a Amadora é o sítio onde estão todas as pessoas ligadas à banda desenhada em Portugal: autores, editores, livreiros, jornalistas, bloguistas, divulgadores, leitores, colecionadores.

Para um(a) jovem desenhador(a) que ninguém conhece, esta é uma boa oportunidade para se dar a conhecer.

O ideal será aparecer no Fórum Luís Camões (o palco central do festival) com um portfólio, num sábado ou domingo à tarde (entre as 15 e as 17 horas, de preferência).

O portfólio não deve ter todos os trabalhos feitos desde que nasceu. Em regra, bastará uma apresentação (profissional) de cerca de dez trabalhos (para menos, e não para mais). Isto não é uma entrevista para emprego. Se tiver muita qualidade, essa qualidade vê-se em dez trabalhos. Se não tiver qualidade, não é por apresentar centenas de trabalhos que a ganha.

Os (mais ou menos) dez trabalhos devem centrar-se em princípios elementares. Quer de desenho (noções de perspetiva, por exemplo) quer de banda desenhada (evidenciando capacidade de trabalho, e de desenhar mais do que duas ou três vezes as mesmas personagens e cenários).

Se o jovem desenhador tiver participado em edições anteriores dos concursos de banda desenhada, deve incluir uma ou outra prancha dessa participação.

A atitude do tal jovem desenhador deve ser colaborante e humilde, compreendendo e aceitando que ninguém que esteja na Amadora tem a obrigação de – sequer – olhar para o portfólio. Se o jovem desenhador é excessivamente tímido – o que acontece muitas vezes aos jovens desenhadores – será útil fazer-se acompanhar por alguém: ou um desenhador (mais ou menos consagrado mas, sobretudo, mais comunicativo) ou uma amiga ou namorada (os jovens desenhadores têm sempre amigas ou namoradas comunicativas). Levar a mãe ou o pai não fica tão bem, mas ainda é hipótese.

Saber a quem mostrar o portfólio depende, muito naturalmente, daquilo que o tal jovem desenhador pretende fazer. Mas entre Rui Brito (Polvo), Mário Freitas (Kingpin Books) ou Maria José Pereira (Verbo/Babel) será difícil não arranjar quem se interesse ou dê os conselhos adequados à sua evolução e melhoria. O primeiro tem um catálogo muito português e muito independente, o segundo está muito à vontade para tudo o que siga uma linha mais influenciada pelos comics norte-americanos ou pela mangá, e a terceira está completamente à vontade no que segue uma influência dos álbuns franco-belgas. Qualquer dos três pode ser procurado a partir dos respetivos stands na área comercial.

Ainda no sentido de aproveitar a oportunidade que o AmadoraBD oferece, atendendo à diversidade de originais em exposição, haverá certamente material exposto que também constitui uma ferramenta útil na ajuda a melhorar.

Com o seu portfólio debaixo do braço, o jovem desenhador deve percorrer o maior número de exposições (incluindo a dos concursos a que concorreram – se tiverem arranjado tempo – outros jovens como ele), e ver como foram resolvidas questões de composição da prancha, apresentação em cena de personagens, enquadramento, sentido narrativo, variação de planos, e outras que fazem parte da linguagem da banda desenhada.

E se o esclarecimento de dúvidas não vier nem da resposta à apresentação do portfólio, nem das exposições apresentadas, o jovem desenhador pode ainda aproveitar os momentos de contacto direto com os autores portugueses ou estrangeiros.

O festival da Amadora está ligado ao nascimento de muitas histórias de banda desenhada. Há uma energia criativa no ar e uma constante discussão de projetos presentes e futuros, que tornam o festival num verdadeiro mundo de oportunidades, a aproveitar ou a criar.

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2 Comments

  1. says: Pedro Mota

    São diferentes. O argumentista tem de ter em consideração que, no ritmo do festival, não há tempo para parar a ler guiões ou contos.
    O ideal será escrever um guião para uma prancha (o guião em si não deve ter mais de três páginas) e arranjar uns dois ou três amigos que o passem a BD com diferentes leituras (ou estilos). O portfólio do argumentista consistirá nesse guião e nessas duas ou três passagens do guião a BD.
    A quem mostrar? Mantenho o Mário, que além de editor é argumentista, mas substituo o Rui e a Maria José pelo Nuno Duarte e pelo André Oliveira. Eles sabem muito sobre o que é ser argumentista, e têm todos os bons conselhos.
    Peço desculpa pela demora na resposta.

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