História do AmadoraBD: 1990

Na contagem decrescente para a 25ª edição do maior e mais prestigiado festival internacional de banda desenhada que se realiza em Portugal (ainda que não faça tanta publicidade ao aCalopsia como o Anicomics), começo hoje a recontar a história do AmadoraBD.

A primeira edição do evento realizou-se entre 8 e 18 de Novembro de 1990. Chamava-se então, de forma algo tímida, “I Salão de Banda Desenhada da Amadora”. Não assumia o carácter internacional, nem o termo (de inspiração francesa) “festival”. A única ponta de ambição estava em dizer que era o primeiro salão, deixando transparecer uma vontade de ser um projeto em continuação.

O salão tinha como palco o pequeno espaço da antiga Galeria Municipal, onde em 2013 estava a mostra dedicada à colecção de fanzines de Geraldes Lino, e incluía a “primeira Feira de Fanzines da Amadora” (organizada pelo fanzine “BD & Roll”, e com a participação de fanzines portugueses e espanhóis). Ao lado da banda desenhada celebrava-se o cinema de animação, com a projeção de diversos filmes animados oriundos da Bélgica, França, Checoslováquia, União Soviética e Canadá, partindo da colaboração ativa de Vasco Granja.

Entre os acontecimentos que constavam do programa oficial salientam-se encontros de autores com estudantes e visitas guiadas a exposições.

Os autores em destaque foram Catherine Labey, José Garcês, José Antunes, Augusto Trigo, Eugénio Silva, Jorge Magalhães, Luís Louro e Tozé Simões, Victor Mesquita, José Neto e, principalmente, José Ruy, António Cardoso Lopes (o Tiotónio) e Morris.

A José Ruy foi atribuído o (então único) prémio Zé Pacóvio e Grilinho. O prémio corresponde ao atual Troféu Honra, atribuído anualmente por proposta da organização e deliberado em sessão de Câmara, e que distingue um autor, entidade ou personalidade que pelo seu trabalho e/ou dedicação se destacou na área da banda desenhada. Tornou-se no “prémio dos prémios” da BD portuguesa. Nascido na Amadora e com uma carreira regular na banda desenhada desde 21 de Dezembro de 1944 (com a idade de 14 anos, n’O Papagaio), José Ruy é naturalmente merecedor de um prémio desta dimensão.

António Cardoso Lopes, mais do que outros autores (como José Ruy), foi o grande elemento de afirmação da identidade da cidade da Amadora no panorama da BD nacional. Estávamos ainda longe da investigação de Leonardo De Sá (publicada em livro em 2008) e a história do “Tiotónio” era um dos mistérios da história da BD portuguesa. O ponto alto do programa do salão de 1990 foi uma sessão evocativa de António Cardoso Lopes.

Por sua vez, Morris, o criador de Lucky Luke, foi o grande elemento de afirmação da vertente internacional do evento organizado pela Amadora (concorrendo com os fanzines espanhóis). Verdadeiramente, foi a presença deste autor que fez com que o evento amadorense se distinguisse de outras iniciativas em torno da banda desenhada. Lucky Luke foi o herói em grande destaque, num protagonismo que levantou alguma polémica em relação à atenção dada aos autores portugueses, mas que não desviou o salão dos seus verdadeiros propósitos, bem expressos no texto do vereador do pelouro da cultura inserto no desdobrável que servia de catálogo à exposição: “(…) À Amadora cabe agora contribuir para o alargamento da influência da B.D. em Portugal. (…)”.

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